sábado, 28 de fevereiro de 2015

Primeiro Feitio

Foram, pelo menos, duas semanas de preparação para que tudo estivesse pronto para o feitio propriamente dito. Construímos a fornalha, refizemos a cobertura da casa de feitio e da boca da fornalha, providenciamos os equipamentos e utensílios, compramos lenha (madeira de reflorestamento e podas), colhemos o cipó e as folhas e compramos alimentos para os trabalhadores. No início, na parte das preparações, foram somente eu e meu amigo que trabalhamos. Dias intensos de muito trabalho braçal, transporte e descarga de material de construção, idas e vindas a serralheiro, marceneiro, lojas de material de construção, recrutamento de pedreiro e ajudante, etc, etc, etc...
Particularmente, achei que eram muitas variáveis para lidarmos e conseguirmos ter tudo pronto em tempo hábil. A ideia inicial era que o feitio propriamente dito durasse 4 dias. Entretanto, como calculamos de forma subestimada a quantidade de matéria-prima, o feitio durou em torno de uma semana de trabalho. Optamos por não adentrar a madrugada trabalhando, já que em certos momentos, éramos apenas três pessoas dando conta de tudo, panelas, fogo, alimentação e todo o resto. Tudo isto nos colocando sob a direção do Poder Superior e dentro da Força.
Dormimos em torno de 5 a 6 horas por noite, reiniciando os trabalhos logo após acordar. Caso tivéssemos mais pessoas no trabalho, reduziríamos este tempo de uma semana pela metade, mas não foi o caso. Ainda tivemos mais um complicador: utilizamos uma máquina para triturar o cipó, já que a bateção manual seria inviável, pelo número reduzido de trabalhadores e a máquina, após o processamento de 5 sacas de cipó, acabou quebrando. Dessa forma, todo o cipó restante precisou ser processado manualmente.
As folhas, como já dito anteriormente, tiveram que ser colhidas em chacronais antigos, que são distante 220 km do lugar do feitio. Foi preciso fazermos duas viagens até os chacronais. A colheita das folhas rendeu 3 sacas. A colheita do cipó rendeu em torno de 9 sacas. A forma de feitio adotada implicava na montagem inicial das panelas, somente com cipó. Daí foram feitas três extrações com o mesmo material (só cipó) e os líquidos da 1ª, 2ª e 3ª extrações foram reservados. Depois, o material foi descartado e as panelas remontadas, dessa vez com cipó e folhas, em camadas alternadas: cipó, folhas, cipó, folhas, cipó. Os líquidos dos primeiros cozimentos (só cipó) completaram as panelas. Também seguimos o mesmo princípio das três extrações e reserva dos líquidos. Por fim, o líquido obtido foi acrescido só de folhas e reduzido. Ao final de todo o processo, o Daime já pronto foi provado, para a certificação de força e luz e submetido a uma última redução, o chamado apuro. Nesta etapa do trabalho foi preciso um controle extremo do fogo e também dos líquidos dentro das panelas para que não transbordassem. Somado ao trabalho manual acontecia de forma concomitante todo o trabalho espiritual, com cântico de hinos, bateção de maracá e muitas chamadas de força, luz e equilíbrio. Tudo isto dentro da Força e da Luz. Foram dias de muito trabalho e de muito crescimento para todos envolvidos. 
O feitio foi uma empreitada bancada materialmente por mim, minha companheira e por meu amigo, dirigente de um trabalho independente. Todas a produção foi dividida ao meio para a manutenção dos nossos respectivos trabalhos. Produzimos em torno de 60 litros que, ao final, apuramos em torno de 22 litros de Daime/Vegetal de alta graduação. Preferimos produzir uma bebida que tivesse muita força e muita luz com uma dose de 50 ml ou menos para um trabalho de 4 horas. Durante a apuração, tivemos também o cuidado de retirar a borra que subia na fervura, tendo ao final uma bebida sem impurezas. Com o tempo, aprendemos que a qualidade precede qualquer outro fator. 
Muita gente de grupos mais "dogmáticos"pode se questionar sobre algumas ações pouco ortodoxas como o uso de picadeira e o esquema das extrações, mas temos que ter em mente que certas ações foram circunstanciais e necessárias, tendo em vista que não dispúnhamos de muitas pessoas e nem mesmo de muitos recursos materiais. O mais importante foi manter a mente e o coração focados no trabalho e ligados ao Poder Superior, que tudo conduziu para a boa execução da obra. Afinal de contas, somos somente instrumentos para o Ser Divino se materializar e abençoar a muitos. 
Produzir a própria bebida deveria ser o objetivo de todos os grupos, pois desta forma, damos o real valor ao copo da Sagrada Bebida que nos chega às mãos, além de nos afinizarmos mais e mais com o Ser Divino que se encerra na bebida que tem "poder inacreditável". 
Agradecemos primeiramente a Jesus Cristo e à Virgem Soberana Mãe, a todos os Seres Divinos da Côrte Celestial e a todos que, de forma direta ou indireta, tenham nos ajudado a concluir esta missão: Nosso Mestre Império Juramidam Raimundo Irineu Serra, Nosso querido Padrinho Sebastião e nosso estimado Mestre Gabriel, além é claro de Mestre Francisco e a todos os Verdadeiros Mestres do Caminho. Agradecemos também a todos que visitam o blog e contribuem para a existência dele e em especial aos irmãos e irmãs que mantêm a VERDADEIRA DOUTRINA DO AMOR viva e pulsante no coração de cada um, aos que consagram o Daime no coração, que não exploram o próximo, que não controlam, que não se apegam, fazendo a verdadeira vontade do Mestre. 
Continuaremos nosso trabalho de divulgação de informações a todos os interessados, bem como a doação de sementes em momento oportuno. Grande abraço a todos e VIVA O NOSSO FEITIO!!!!


Espaço para bateção manual do cipó.



Mestre Irineu, Padrinho Sebastião e Mestre Gabriel adornando a Casa de Feitio.



Montagem das panelas.








Adicionando cozimento nas panelas.



Adição somente de folhas.










Panela quase pronta para ser retirada.






Mesa de trabalho.

Preparo para o envazamento do Daime.



Parte do Daime enlitrado.



Colheita das Folhas de Rainha

Apesar de já ter estabelecido minhas Rainhas, elas ainda encontram-se em desenvolvimento, não oferecendo folhas suficientes para o nosso feitio. Contamos com a colaboração gentil de duas amigas que possuem chacronais antigos, com plantas com mais de 10 anos, carregadas de folhas. Conseguimos colher em torno de duas sacas e meia de folhas. Ainda fiz uma colheita das minhas Rainhas e consegui complementar a saca que estava pela metade, totalizando três sacas de folhas.





Outros Utensílios e Equipamentos Para o Feitio

Tínhamos somente as plantas e a vontade de materializar a Santa Bebida. Além da boa vontade, foi preciso a aquisição e/ou confecção de todos os utensílios e equipamentos necessários para o feitio. Utilizamos 2 panelas de alumínio (sabemos não ser a ideal...) de 68l (Marca ABC nº 45) e uma terceira panela de 48l para aparar os líquidos. A escolha por este tamanho de panela se deu muito por conta do reduzido número de pessoas para o feitio e por uma questão de comodidade para quem fosse lidar com as panelas. Panelões de 120l são muito pesados para o manuseio, panelas de 68l permitem uma lida melhor. 
Confeccionamos a calha para escoar os líquidos, 4 pás de madeira (Ipê) para assentar o material nos panelões, 2 canecões com hastes metálicas para escaldar os cozimentos e transferir líquidos, 1 aparador metálico com haste para segurar o material sólido dentro dos panelões, um cambão com ganchos móveis para a retirada das panelas do fogo. Além disso, adquirimos 4 recipientes plásticos grandes para conter os cozimentos e uma leiteira para armazenar o Daime já pronto. Além deste material, tivemos que adquirir também panos, luvas, lonas plásticas, recipinetes de vidro ambar... A lista é maior, mas me recordo no momento destes itens. Num próximo feitio, os custos serão menores, já que boa parte dos equipamentos e utensílios necessários estarão prontos.

Calha metálica para escoamento e panela para aparar os líquidos.

Panelões de 68l, pás de madeira e detalhe do aparador, dos canecões e do cambão ao fundo.

Recipientes para armazenar os cozimentos e o Santo Daime.

Mais uma vista dos panelões na fornalha, o aparador e os canecões com hastes na parede, o cambão e a panela auxiliar.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Construindo a Fornalha

Quando pensamos em feitio, nos vem à mente o trabalho direto com as plantas. Entretanto, existe toda uma preparação prévia que é necessária. O trabalho com as plantas é um dos últimos estágios. Sendo assim, foi preciso que construíssemos uma fornalha. Vejo muitas pessoas dizendo que trabalham com gás, mas para ser franco, a melhor forma de obter uma extração satisfatória é com fogo de alta pressão, proporcionado pela queima de lenha em uma fornalha. Posso afirmar sem medo de errar que não existe meio mais eficiente para o feitio do que uma boa fornalha. Um bom feitio começa com as plantas, obviamente, e outro ingrediente essencial é uma boa fornalha!
Para a construção da fornalha utilizamos blocos cimentícios, tijolos refratários (próprios para churrasqueira e fornos) e tijolinhos comuns. Além disso, a massa foi preparada com uma parte de filito, cimento para tijolo refratário, uma parte de areia fina peneirada, uma parte de barro e o ingrediente mais inusitado: um bom punhado de açúcar cristal!!! O açúcar ajuda a dar liga e a manter a massa coesa depois de seca e exposta a altas temperaturas.
A grelha intermediária onde a lenha queima foi feita com tela de metal expandido e metalon. Já a tampa foi confeccionada com chapa de metal e metalons. As bocas da fornalha foram feitas com o diâmetro de 47 cm, já que as panelas que utilizamos tinham 45cm de diâmetro.

Início da fornalha dentro do cômodo que ficou definido como a casa de feitio


Detalhe da grelha.

Buraco da fornalha e detalhe da escavação do duto.


Inicío da abertura externa da fornalha.


Detalhe da tampa da fornalha.



Parte externa da fornalha.


Vista do interior da fornalha.

A lenha queima por cima da grelha e toda a cinza cai na parte debaixo, permitindo uma maior eficiência da fornalha e menor consumo de lenha.






Assentamento da grelha.


Chaminé.

Proteção para a lenha e para o foguista.

Detalhe da fornalha em funcionamento.